Adjunto Adnominal, Complemento Nominal, Transitividade

No primeiro post falamos sobre o estudo de Gramática e como ele pode nos ajudar a levar mais longe nossa capacidade de nos comunicar através da linguagem. Hoje vou falar sobre alguns tópicos que estudamos em Análise Sintática. A Sintaxe é a parte da Gramática que estuda as funções que as palavras assumem dentro de uma oração. Então, vamos ler o período abaixo: " Ana Luiza sentiu saudade e voltou para a casa." O período acima é totalmente compreensível. É fácil entender o que ele quer dizer. No entanto, ainda não temos muitos detalhes sobre algumas coisas sobre as quais poderíamos adicionar mais informações, para que a história fique mais completa. Veja abaixo: "Ana Luiza sentiu saudade e voltou para a casa dela." Pronto: agora sabemos que a casa é da própria Ana Luiza, certo? Ficou fácil perceber assim que a palavra "dela" desempenha uma função nessa oração, já que nos permite entender um pouco mais sobre a tal da casa. A palavra "dela" está dando uma qualidade a um "nome de alguma coisa". Esse "nome de alguma coisa" é o substantivo - no caso, o substantivo "casa". Essa função possui um nome: adjunto nominal e, como vimos, funciona como um adjetivo. Nós poderíamos substituir, se quiséssemos, a palavra "dela" por "do Antônio", "da mãe da Maria", "de madeira", ou mesmo "azul", "grande" etc... todos esses termos continuam exercendo a mesma função: fornecer uma qualidade ou característica ao substantivo "casa", permitindo que saibamos mais sobre ele. Simples, não é? Agora vou deixar a coisa mais interessante. Existe, no exemplo que utilizei, uma outra oração contendo um outro substantivo sobre o qual nós poderíamos fornecer mais alguma informação. Você consegue identificar? Sim, estou me referindo a "saudade". Poderíamos nos perguntar, "ela sentiu saudade de quem?". Veja abaixo:

"Ana Luiza sentiu saudade do irmão e voltou para a casa dela." Mas, nesse caso, eu não adicionei um adjunto adnominal, e sim um complemento nominal ("do irmão"). Mas se tanto um como o outro dão informações a mais sobre um substantivo (no caso logo acima, "saudade"), qual é a diferença? Eu não vou passar aqui uma lista de regras de classificação porque, embora esse seja o caminho mais rápido, é também o mais chato e não permite que a gente brinque com a análise, use a inteligência e se divirta! Por isso, vamos analisar essa diferença com mais calma, percebendo a dança de sentido e significados que é o que faz da literatura uma arte tão bela! Então, voltemos ao ponto: por que "saudade do irmão" contém um complemento nominal e "casa dela" contém um adjunto adnominal, já que ambos os termos conferem alguma característica a mais a um substantivo? Se a gente destrinchar o significado de ambos os termos, podemos ver uma diferença sutil, mas fundamental. Em Gramática, existe uma palavra chamada "transitividade". Lembra dos verbos transitivos? São aqueles onde há um "trânsito" de significado, onde há uma necessidade de continuação para que o sentido deles se completem.

Por exemplo: se eu estiver ao lado de um amigo, ambos em silêncio, e de repente eu disser simplesmente: "Eu gosto.", é muito provável que ele espere que eu complete a frase e, se eu não completar, ele vai perguntar: "Mas gosta de que?"... Bem, aí é que mora a transitividade! Mas não são apenas os verbos que pedem uma continuidade: alguns adjetivos, advérbios e substantivos também pedem, dependendo da frase onde estão inseridos. No exemplo que dei, a palavra "saudade" possui uma transitividade, já que quem sente saudade, sente saudade de alguma coisa. Aí já está uma pista para que possamos identificar um complemento nominal, e também fica fácil perceber porque substantivos concretos não são acompanhados por complementos e sim adjuntos, já que sempre possuem encerrado em si mesmos seu significado: não há transitividade. É o caso da palavra "casa". Também por isso que dizem que o complemento nominal possui função passiva: ele recebe a ação, não o contrário (no caso, o irmão é objeto da saudade, e portanto tem um valor passivo em relação a ela). Se compreendermos isso, também fica mais fácil lembrar por que o complemento nominal vem sempre precedido de uma preposição: exatamente por seu valor passivo. Nos dois exemplos que usei de complemento e adjunto, eles vieram após substantivos. Já percebemos que o adjunto adnominal sempre vem junto a um substantivo, já que possui função adjetiva, acessória. Mas e o complemento nominal? Vamos verificar outros exemplos, usando outras classes de palavras? Vejam abaixo: "Você está certo disso?" Note que o adjetivo "certo" possui uma necessidade de complementação de significado: quem está certo, está certo de alguma coisa, portanto vemos aí um complemento nominal.

Mais um exemplo, desta vez usando um advérbio: "Eu moro longe do mercado". No caso acima, quem mora longe, mora longe de alguma coisa ou de algum lugar; portanto para completar o sentido de "longe" é necessário um complemento. Isso que estamos fazendo, ao destrinchar um período de orações, é o que se chama "Análise Sintática", um dos maiores pesadelos dos alunos brasileiros... mas vejam que não é necessário, assim como em Matemática, decorar milhões de regras e fórmulas, pois se entendermos os "porquês" delas, conseguimos resolver qualquer problema!

Para finalizar, vou lançar um desafio. Leiam a frase abaixo: "André acha a casa bonita." A palavra "bonita" representa uma qualidade da casa; mas ela pode ser considerada um adjunto, um complemento ou será que é outra coisa? Para deixá-los com a curiosidade acesa, vou deixar para pensarmos juntos nisso no próximo post! Um grande abraço e até lá!