Verbo Transitivo e Intransitivo e Complemento Verbal
- fabiaraujoletras
- 8 de out. de 2015
- 4 min de leitura
Uma das coisas que mais me deixavam confusa nas minhas aulas de Língua Portuguesa na escola era o estudo de verbos transitivos e intransitivos. Era difícil para mim considerar alguns verbos como transitivos e outros intransitivos pois eu percebia que isso variava dependendo do contexto da frase. Bem, mas uma coisa que me ajudou a entender melhor esses conceitos foi pensar em termos das funções ou papéis exercidos pelos verbos nas frases, ao invés de ficar olhando as listas de verbos transitivos e instransitivos que estavam na apostila! Vamos tomar como exemplo o período abaixo: "Larissa comprou um pacote de biscoitos."
Falamos bastante de transitividade quando estudamos o conceito de complemento nominal. Entendemos, assim, que alguns termos das frases que usamos carregam dentro de si uma ideia de transitividade, ou seja, precisam de algo que lhes complete ou complemente o sentido. Quando falamos de Verbos Transitivos, estamos falando, portanto, de verbos cuja ação não se encerra em si mesma, mas precisa de um objeto no qual se apoiar. Isso já não ocorre com os verbos que chamamos de intransitivos. No exemplo logo acima, o verbo "comprou" possui transitividade porque não é possível comprar sem que se compre alguma coisa. Ninguém simplesmente compra sem que haja um objeto de compra. Por causa disso é que, sempre que há um verbo transitivo, pressupõe-se que haja também um objeto. Até aí tudo está fazendo sentido. Agora vamos dar uma olhada nas frases abaixo: "Saltamos o muro da casa do vizinho."
"Subimos no muro e saltamos."
Estamos utilizando, nesse caso, o mesmo verbo - "saltar" - para mostrar que não adianta decorar uma lista de verbos transitivos e verbos intransitivos, não só porque isso não tem muita validade como também tiraria de nós o mais importante, que é ser capaz de identificar os papéis desempenhados pelas palavras dentro da língua que utilizamos para nos comunicar. Quando dizemos "saltamos o muro", vejam que o verbo "saltar" está desempenhando uma função transitiva, já que pressupõe uma continuidade de sua ideia. Estamos falando de "saltar alguma coisa", e não somente saltar por si só.
Já quando dizemos "subimos no muro e saltamos", não estamos saltando o muro, e sim saltando após subir no muro. Não estamos saltando nada, estamos simplesmente saltando. E se eu tivesse escrito a segunda frase assim: "Subimos no muro e o saltamos."? Aí sim, haveria transitividade pois eu estaria dizendo que nós saltamos o muro, representado aqui pelo pronome "o". Então, o verbo saltar poderia ser considerado transitivo e o pronome "o", seu objeto. Tudo tranquilo até agora? Vamos verificar então uma outra forma de transitividade, a qual chamamos de indireta. Os exemplos de verbos transitivos que dei até agora são diretos, isto é, a ligação com o objeto é direta e sem pedras no caminho... Agora vejam o exemplo abaixo: "A mulher bateu na porta." Há uma pedrinha no caminho entre o verbo "bater", claramente transitivo porque não é possível bater sem que se esteja batendo em algo ou alguém, e seu objeto. O que é essa pedrinha? Sim, a preposição, esse ponto que costura os significados das frases com tanta discrição! No caso acima, estamos falando da preposição "em", contida na palavra "na" que é, como vocês devem se lembrar, uma fusão da preposição "em" com o artigo "a". Já se eu tivesse escrito "A mulher bateu a porta", o sentido mudaria: agora não estou batendo na porta, e sim batendo ela mesma, fechando-a com força, e "a porta" se ligaria ao verbo "bater" como um objeto direto. Vou dar mais um exemplo para entendermos melhor a função direta ou indireta dos objetos, desta vez mergulhando mais fundo no significado dos termos. Se pensarmos na frase "Eles comeram o bolo", podemos ver que o ato de comer incide diretamente sobre o bolo , isto é, a ação se expressa no objeto, de forma direta: o bolo foi comido. Agora, se eu disser "Fale com ela", vemos que o verbo falar possui transitividade mas a ação que ele expressa não incide diretamente sobre seu objeto: "ela" não é o tema ou o assunto da fala, "ela" é a pessoa para quem a fala é direcionada. A relação com o verbo é, portanto, indireta. Agora, é possível que um verbo seja transitivo direto e indireto ao mesmo tempo? Sim, claro! Veja: "Quero discutir esse assunto com meus funcionários." A transitividade do verbo "discutir" acima se expressa em duas vias: uma relacionada ao objeto de discussão ("esse assunto") e outra relacionada a com quem se discute ("com meus funcionários"). Portanto temos aí um objeto direto e um objeto indireto, mediado pela preposição, ligados a um mesmo verbo. E, independentemente se serem indiretos ou diretos, os objetos exercem sempre o mesmo papel de complementar, completar, a ação expressa pelo verbo - são, por isso, chamados de complementos verbais. Para finalizar, vou lançar um outro desafio. Leiam a frase abaixo e procurem pensar se o verbo é transitivo direto/indireto ou intransitivo, e qual o papel que o termo "pela rua" está desempenhando: "Luana caminhou pela rua." Na próxima postagem falaremos disso! Um abraço e até lá!
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